segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Crise de existência[?]


"Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total. Até a próxima morte, que qualquer nascimento pressagia".

[Caio Fernando de Abreu]






sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Recaída



Algumas vezes eu podia até sentir o gosto
dos meus lábios, parecendo um sorvete de baratas.
O cheiro da minha pele queimada e o grito de
traição assombravam meu sono, até mesmo agora,
depois de tanto tempo.
Balancei a cabeça para não dormir.
Se eu gritasse, o som se perderia
na espessa escuridão do meu quarto.
Esfregando os olhos, peguei desajeitadamente
o maço de cigarros ao lado da minha cama...
E distraidamente risquei o fósforo para acender
a porcaria.
Uma faísca lançou um pequeno brilho
sobre as paredes imundas,
e então desapareceu num sussurro.
Fumaça nova misturou-se com o ar parado,
enquanto eu forçava a respirar lentamente
mais calmo, concentrei-me no livro à minha frente.
Imagens que antes eu acharia obcenas,
agora oferecia-me familiaridade,
um descanso bem-vindo dos horrores do passad
Apesar de sentir um pouco de arrependimento
pela dor que causei a mim mesmo,
toda culpa abandonou-me bem antes do renascer.
Para que servia o arrependimento
se eu já estou condenado ao INFERNO?
O barulho inspido das cinzas caindo na página
interrompeu meu desvaneio.
O som me trouxe de volta para o presente.
Melhor não ficar pensando nessas escolhas difíceis.
Os rabiscos arcanos me chamavam,
me seduziam com saberes que já eram antigos,
antes mesmo do Dilúvio.
Terminei meu cigarro com o último trago pesado,
espalhando as cinzas com um aceno,
e paroximei-me ainda mais no indescrítivel.
Ainda há tanto a aprender...
Mas Deus e o Diabo sabem que eu paguei o preço
por isso.






domingo, 2 de novembro de 2008

Nova Era.


O cérebro humano, é um órgão estranho. É capaz de ajustar e se adaptar a qualquer coisa. Quando se é bebê, não se enxerga muito bem, e as coisas estão de ponta-cabeça, porque você acabou de sair de um pacote. Conforme se vai crescendo, depois de alguns dias ou meses, seu cérebro o "tapeia" para que você acredite que tudo está na posição certa. Basicamente, a mesma coisa aconteceu comigo. Meu cérebro me "tapeou" para me fazer pensar que a carga extrema era a única carga que existia.

As coisas eram assim mesmo. Eu não consigo sentir nada agora. Meus nervos estão mortos e só consigo sentir extremos.