sábado, 30 de maio de 2009

A cura de Shopennhauer Prt. V

Nada mais consegue me assustar ou emocionar. Cortei todos os milhares de fios que me ligavam ao mundo e me puxavam para frente e para trás (cheios de ansiedade, raiva e medo), num sentimento constante. Sorri e olhei calmamente para trás, para a ilusão do mundo, indiferente como um jogador de xadrez no final de uma partida.




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sábado, 23 de maio de 2009

A cura de Shopennhauer Prt. IV



Concordamos em vários pontos, mas a separação era inevitável, como dois amigos que percorrem juntos com um pedaço e se despedem porque um vai para o norte e outro para o sul, e logo se perdem de vista.




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domingo, 17 de maio de 2009


- Eu sei que nunca mais encontrarei nada nem ninguém que inspire uma paixão. Você sabe, não é tarefa fácil amar alguém. É preciso ter uma energia, uma generosidade, uma cegueira... Há até um momento, bem no início, em que é preciso saltar por cima de um precipício: se refletirmos, não o fazemos.
Sei que nunca mais saltarei...

[Sartre]



"Há apenas um mundo e ele é falso, cruel, contraditório, sedutor, sem sentido

Um mundo assim é o verdadeiro mundo

Precisamos da mentira para triunfarmos sobre essa realidade
essa é a "verdade"que precisamos para viver
salve a mentira necessária
para se viver fazemos parte desse caráter terrível e questionável dessa existência inutil"

[Nietzsche]




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sexta-feira, 15 de maio de 2009

A lucidez perigosa







Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.


Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.


Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.


Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.


[Clarisse Lispector]







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sábado, 2 de maio de 2009

Ausência





Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
Que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque a ausência, essa ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.

[De Carlos Drummond de Andrade]





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sexta-feira, 1 de maio de 2009




Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me me crer
O que nunca poderei ser.


[Fernando Pessoa]







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